“Para mais helicópteros nos ares é preciso existir todo um ecossistema. E uma parte muito importante é o tráfego aéreo. Hoje, já é super difícil. Agora imagina em um mundo com muito mais ativos aéreos como os eVTOLs? O Vector será crucial”, comenta João Welsh, CEO da Revo, em encontro com jornalistas.
O desenvolvimento do Vector está em andamento desde 2017 e contou com parcerias internacionais, como a Civil Aviation Safety Authority (CASA), da Austrália, e a CAA (Civil Aviation Authority), de Londres, onde a Eve começou a testar os conceitos operacionais. Agora, no Brasil, os testes operacionais do Vector já estão em curso no Brasil - mas ainda em forma de simulação.
Hoje, há sistemas de radar e tecnologia ADS-B (Automatic Dependent Surveillance-Broadcast), que permitem que as aeronaves "vejam" umas às outras no ar e transmitam suas posições e altitudes em tempo real. No entanto, essa tecnologia ainda depende da comunicação ativa e muitas vezes exige intervenção manual, tanto dos pilotos quanto dos controladores.
Então quando um avião irá cruzar o caminho de um helicóptero, é necessário que um operador de uma torre, de forma manual, se comunique com o piloto solicitando um estado de espera para retornar ao voo. Esse movimento gera custos e emissões de gás carbônico. Com o Vector, será possível uma economia de até 50% em combustível em rotas curtas com o Vector.
“Em um voo de 8 minutos, se há quatro paradas, 50% do combustível é jogado fora. Isso tudo é custo, é CO2 que está sendo emitido nesse tempo de espera. O Vector vai entrar para termos ganhos de produtividade e de escalabilidade”, diz Altíssimo.
Durante a semana do dia 21 de outubro, até 10 voos de dois helicópteros foram monitorados por dia no centro de controle de operações da Revo em São Paulo (conhecida por ter o maior número de operações de helicóptero do mundo) para validar a capacidade do Vector em analisar atrasos nas partidas, restrições do espaço aéreo e clima.
O objetivo final é que ele consiga sugerir rotas alternativas que otimizem as viagens das aeronaves. E, de acordo com Altíssimo, a ideia é que o Vector também seja compatível com outros veículos aéreos para além dos eVTOLs.
“O software vai poder ser usado em outros lugares do mundo. Estamos, inclusive, colaborando com a Federal Aviation Administration (FAA) e a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (AESA) para que possamos trazer todos os regulamentos necessários”, afirma a vice-presidente.
Isso porque, para poder ser comercializado, será necessário um avanço na regulamentação. “Embora o que já desenvolvemos (no caso, a simulação) não precise de autorização regulatória, as próximas fases do Vector vão envolver essa regulação” destacou a equipe técnica. No Brasil, tudo irá depender da aprovação do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea).
E quando estiver em campo, a Revo deseja sair na frente. “Queremos ser a primeira companhia aérea com eVTOLs e o Vector do mercado”, enfatiza o CEO. Além de promover a sinergia com o DNA brasileiro da Eve, o software, ao tornar as operações escaláveis, contribui diretamente para a meta da Revo de democratizar o preço do transporte aéreo urbano.
“Em termos de economia, é muito cedo para falar disso. Mas a longo prazo, a equação faz sentido, e vai existir redução de custo nesta operação, o que vai permitir um serviço aberto a mais pessoas”, comenta Welsh.
A média de uma viagem em São Paulo, atualmente, é de US$ 450 por pessoa incluindo o serviço completo com concierge. “Analisamos diminuir em quatro vezes. Lá fora, custa US$ 100, mas isso exige um processo, ainda não dá para dizer que seria factível”, diz o CEO da Revo.
Dentre as 2.900 mil cartas de intenção de compra de eVTOLs de 30 clientes em 13 países, o que representa um potencial de US$ 14,5 bilhões em receita, a Revo possui 50 pedidos. E a ideia, segundo Wesh, é operar de forma mista a frota de helicópteros da Revo, com os ‘carros voadores’.
Recentemente, a Eve obteve um financiamento de US$ 50 milhões do Citibank para o desenvolvimento dos eVTOLs. Este montante incorporou o também aporte de US$ 95,6 milhões, proveniente de um conjunto de empresas industriais globais e investidores financeiros, anunciado em julho de 2024.
A Eve também firmou um contrato de R$ 500 milhões para uma linha de crédito com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), dando continuidade à parceria iniciada em 2022, quando o órgão aprovou uma também linha de crédito de R$ 490 milhões para o desenvolvimento do programa eVTOL.
Agora, os novos recursos visam financiar a construção de uma fábrica em Taubaté (SP), cidade em que a Embraer já está instalada, para a produção de até 480 aeronaves por ano.
Rebecca Crepaldi - Exame